domingo, 19 de junho de 2011

Licensa musical - "O Quereres"

Onde queres revólver, sou coqueiro; onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo; e onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta; e onde voas bem alta, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta; e ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco; e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco; e onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez; e onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão; e onde queres cowboy, eu sou chinês

Onde queres o ato, eu sou o espírito; e onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo; e onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói; e onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução;  e onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor; construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor;  mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou; não te quero (e não queres) como és

Onde queres comício, flipper-vídeo; e onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
Onde a pura natura, o inseticídio; onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim; do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim; infinitivamente pessoal
E querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim
 
 
 
 
 
Caetano Veloso - "O quereres"... ouve aí, ela é bonitinha...