Anos se passaram, Sophia se casara de novo com uma pessoa que ela julgava ser um bom homem e era feliz com ele. Era um empresário, um homem de negócios e sempre deu tudo que ela precisou, mas nunca havia esquecido Daniel, por dois motivos: um, por ainda amá-lo e outro por odiá-lo. Já não morava no Rio, se mudara logo depois de Daniel ter partido e agora possuía o que ela sabia ser sua jóia mais preciosa desse mundo: sua filha, Dominic.
A mãe de Sophia ficou doente e Sophia então resolveu ir ao Rio, já fazia muito tempo que não visitava sua cidade. Ela não gostava de visitar os pontos turísticos pois em qualquer lugar que olhasse ela se lembrava do sorriso de Daniel, focando a sua câmera e usando Sophia como sua modelo. Mas ela sentiu uma enorme vontade de visitar sua antiga casa, e assim o fez. Ao chegar lá ela logo percebeu que tinha alguém na casa, mas mesmo assim bateu a porta. Ela reconheceu a moradora imediatamente, tratava-se da irmã de Daniel, Raquel.
As duas conversam bastante e Sophia não demorou para perguntar a Raquel, até mesmo com um certo rancor, se ela tinha notícias de Daniel. E então Raquel lhe disse que Daniel havia falecido fazia 3 anos. Sophia deu um salto do sofá onde estava e as lágrimas lhe tomaram conta e Raquel lhe contou tudo o que havia acontecido, desde quando soubera que Daniel estava doente e contou o que Daniel havia inventado para se afastar de Sophia e quando o questionava sobre sua atitude, ele dizia a irmã que era pra não ver Sophia sofrer com sua doença e sua morte poupá-la de um sofrimento maior.
Raquel disse que havia procurado por Sophia por todo lugar quando Daniel faleceu, mas ela não morava mais no Rio. Ela tinha duas coisas que Daniel deixara para Sophia. Uma foto bem conservada daquele dia de primavera no Jardim Botânico, que ele sorrateiramente tirara de Sophia sem que ela percebesse sua mais antiga e mais apreciada câmera fotográfica, a qual ele dizia ser sua amante quando Sophia não estava.
Ela chorou, chorou bastante. E um tempo depois ela abriu a antiga câmera e viu que dentro havia um papel o qual nem mesmo Raquel tinha conhecimento, ainda em bom estado, bem dobradinho e reconheceu logo ser a letra de Daniel. Ela leu:
“Minha Flor Rosa, estarei morto quando estiver lendo esta carta mas sei que meu coração estará junto com você. Me perdoe ter mentido pra você e perdoe meu egoísmo, mas não queria que você fizesse parte dessa maratona de sofrimento que é a morte. Você foi e sempre será a mulher que eu amo, em toda minha vida apenas pedia a Deus que protegesse a nossa felicidade e que me desse muitos dias nessa vida para fazê-la feliz. Mas as coisas nem sempre sai como esperamos. Sei que você é uma mulher forte e você é linda, espero que tenha achado alguém para fazê-la tão feliz como eu sempre desejei fazer. A sua felicidade é a minha felicidade. Seja feliz por nós dois”
Te amarei para sempre Daniel
Sophia terminou de ler, com os olhos marejados de lágrimas e com o coração leve por saber que o amor da sua vida a havia amado e a amaria pela eternidade. Ela pôde notar, no cantinho do papel o que parecia ser uma frase rabiscada, mas ainda legível, onde se podia ler “Dominic, papai te ama”. Sophia nunca tinha entendido de onde tinha vindo a vontade de colocar o nome de sua filha de Dominic, mas foi o primeiro nome que lhe veio a cabeça e achou mais estranho depois de perceber que nunca, nem ela nem Daniel, tinham tocado nesse nome antes. Mas ela não ficou assustada, pois sabia que nem depois de morto, Daniel a tinha deixado só. Parecia sempre sentir que nos momentos mais difíceis, alguém a segurava pela mão.
Sophia foi feliz enquanto viveu, fazendo a vontade de Daniel. E faleceu já em idade avançada, numa bela manhã de primavera. E teve seu último pedido em testamento atendido por sua filha, que era que suas cinzas fossem espalhadas em um ponto especifico do Jardim Botânico, onde as cinzas de Daniel também haviam sido espalhadas e assim, conseguiram finalmente ficar juntos pela eternidade.